Lançamento. Coragem! As Muitas Vidas de dom Paulo Evaristo Arns.

     Vale a pena divulgar isso. Não sei onde está sendo projetado. Vou procurar. Mas foi lançado dia 14 de fevereiro. É daqueles produtos culturais difíceis de distribuir comercialmente, embora de importância fundamental. Trata-se do documentário de Ricardo Carvalho sobre o já falecido arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns.

     A Igreja Católica teve muitas atitudes pusilânimes ao longo de sua já longuíssima trajetória. Podemos destacar a famigerada Inquisição, o silêncio diante do Nazismo e, por último, os grandes escândalos de abusos sexuais. Este último tópico pode ser abordado como um certo exagero americano. Abusos existem em todos os setores da sociedade humana.

     Mas vamos, enfim, ao grande dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016). Ele ocupou o cargo de arcebispo da cidade de São Paulo durante os anos de chumbo da ditadura militar. Jamais se curvou diante do regime de exceção que comandou o Brasil por trinta anos. Jamais silenciou ou se omitiu. Agiu corajosamente na defesa de condenados e fugitivos. Acima das ideologias políticas, dom Paulo vestiu a difícil coerência cristã para defender, acima de tudo, a vida e a dignidade humana. Entrou para a história como uma unanimidade heroica. Pode ser comparado com o salvadorenho dom Oscar Romero. Dom Paulo não foi mártir, como Romero, mas tinha a mesma visão da obrigação cristã da defesa da vida e da liberdade de pensamento, de religião e de expressão.




     E vejam que curioso. Dom Paulo teve, pelo menos em tese, biografia mais pura do que a do hoje Papa, dom Jorge Mario Bergoglio, carismático, simpático, de sorriso doce, mas cuja atividade em Buenos Aires é contestada por alguns. Releve-se que a ditadura argentina foi muito mais sanguinária do que a brasileira. Mas há histórias sobre o Papa Francisco, como a que envolveu dois jesuítas sob seu poder, que desapareceram para voltarem salvos depois. Há quem afirme, embora ninguém confirme, que foi a Igreja quem denunciou seus membros. Aqueles que defendem dom Bergoglio dizem que não, pelo contrário, foi ele quem lutou, também com muita coragem, pela libertação de seus comandados junto aos perigosos e ignorantes  brucutus das Forças Armadas argentinas 

     E mais. Questionemos, afinal, por qual razão dom Paulo não chegou ao papado e dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda, nunca ganhou o Nobel da Paz. Talvez tenham sido politica e humanamente vanguardistas demais, coerentemente cristãos demais para o tempo em que viveram. O cristão coerente pode ser encarado por mentes mais bárbaras como um "comunista", embora esteja longe de ser.
  

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